sábado, 16 de outubro de 2010

Prevenção

O trabalho preventivo apropriado para a prática de atividade física seja ela de caráter recreativo ou competitivo pode garantir que o desempenho e rendimento esperados sejam atingidos e mais importantes para os atletas, que as lesões sejam evitadas.
 

Sabe-se que no mundo das lutas, a constante busca por patrocínio, investimento pessoal e estabilidade financeira, é muito difícil, tendo muitas vezes, o próprio atleta que se sustentar e manter a rotina de treinos por sua conta. A partir disso, pode-se notar quão importante torna-se um dia de treinamento para esses lutadores, tendo em vista, que as lesões os afastariam, a prevenção dessas lesões deve ser inserida na rotina desses atletas.
 
O programa preventivo deve ser sempre orientado por um profissional adequado (por exemplo: médico, fisioterapeuta ou educador físico, preferencialmente, que esteja na área desportiva), podendo ser realizado antes do treino ou como parte do mesmo, já que possui duração média de 25 a 30 minutos, e pode ser feito no mínimo 3x/semana, tendo a seguinte estruturação:
 
Alongamento
O alongamento, como já dito na matéria passada, pode ser feito antes da atividade como uma forma de aquecimento ou também mesclar exercícios de aquecimento com alongamento, pois ele também prepara o corpo para a atividade, bem como pode ser feito após o exercício juntamente com a volta-a-calma, como forma de relaxamento muscular. No caso, como parte de um programa de prevenção, deve ser realizado segundo alguns objetivos que se espera alcançar:
 
- Aquecimento: preparação da musculatura previamente aos exercícios, sendo alongadas as principais musculaturas que serão exigidas durante o treinamento, sendo esses alongamentos de curta duração (15 a 25 segundos);
 
- Flexibilidade: grau de amplitude de movimentos das diversas partes corporais. Depende da elasticidade de músculos e tendões e da estrutura das articulações, possibilita um aumento do controle sobre o próprio corpo e o desempenho na sua atividade física em decorrência da maior mobilidade e coordenação motora proporcionada pela flexibilidade, conseqüentemente pode-se dizer que isso evitará a ocorrência de lesões. Esses alongamentos devem ser realizados com duração entre 30 e 90 segundos, geralmente com 3 séries, sendo o intervalo entre elas de 20 segundos. Porém, deve-se saber que em esportes como as lutas que exijam força de explosão, seja na hora de entrar uma queda, executar um golpe ou uma raspagem, ou mesmo nos chutes e socos, o alongamento mantido (duração superior a 30 segundos) pode causar uma redução temporária na força caso seja executado pouco antes de um treino ou competição. Sendo melhor, portanto, realizar o alongamento com a finalidade de aquecimento citada anteriormente.
 
Obs: Sugiro executar os alongamentos para ganho de flexibilidade em períodos que não antecedam os treinamentos, ou seja, se o treino é na parte da tarde, realizar os alongamentos, no período da manhã ou da noite (pós-treino)!
 
Fortalecimento muscular
Fortalecer os grupos musculares responsáveis por absorver o impacto, além de fornecer força específica em membros e músculos determinados, é fundamental para os lutadores. Como se não bastasse, é o trabalho muscular que vai funcionar ativamente na prevenção das lesões típicas do esporte, evitando contusões por desgaste e até as relacionadas à postura.
 
Nos esportes de luta, fica difícil dizer quais músculos devem ser priorizados, já que estes esportes exigem que toda a musculatura seja ativada, portanto, o mais ideal, é realizar um trabalho de fortalecimento muscular geral, sendo os grupos musculares comumente utilizados neste tipo de trabalho: flexores e extensores de punho (musculatura do antebraço) importantes nos esportes que exijam pegada, como o judô, jiu-jítsu entre outros; bíceps, tríceps, deltóide e músculos do manguito rotador, musculaturas essas prioritárias para o controle motor durante a execução de movimentos com os braços; trapézio e esternocleidomastóideo (musculatura primária na manutenção do posicionamento do pescoço) importantes para os esportes de impacto na cabeça, como MMA, boxe, taekwondo, muay-thai, entre outros; musculatura da região lombar, glúteos e abdômen (responsáveis por estabilizar o tronco); quadríceps e isquiotibias (musculatura anterior e posterior da coxa respectivamente) importantes para a região do joelho, muito utilizada em todos os esportes de luta.
 
Obs: Sempre buscar orientação de um educador físico, o qual irá orientar os melhores exercícios e a melhor forma de execução destes treinos de fortalecimento.
 
Treinamento do CORE
Definição: significa o núcleo, cinturão de força do centro do corpo.
Ao treinar o core, as forças adquiridas das musculaturas profundas de estabilização são extremamente importantes para o sucesso nos esportes. As musculaturas de estabilização do core são: transverso do abdome, músculo multífidos, assoalho pélvico e diafragma.
 
Ter um core mais forte significa ter mais equilíbrio e mais controle sobre o próprio corpo, protegendo a coluna vertebral, absorvendo o impacto na luta e mantendo a postura correta realizando movimentos com um gasto energético menor.
 
Podem-se trabalhar estes músculos através de pranchas e pontes, sejam elas laterais, ventrais ou dorsais, e também através de movimentos funcionais do esporte, sempre tendo a liberdade de usar a criatividade na execução destes exercícios.
 
A manutenção das posturas é feita por tempo, ou seja, 15 segundos, com progressão do tempo de acordo com sua evolução nas posturas, sendo geralmente realizadas por 3 séries com 30 segundos de intervalo.
 
Exemplos de posturas:
 

prancha


prancha lateral
 

prancha na bola
 
 
 
Treino sensório-motor
Envolve as integrações centrais, sensoriais e motoras e as estruturas envolvidas na manutenção da integridade das articulações durante os movimentos corporais e nas manutenções de postura.
 
A idéia de que um músculo forte e alongado é suficiente para prevenir lesões, vem sendo substituída por um conceito que estabelece a melhora funcional das articulações e dos músculos em conjunto na prevenção de lesão, como conseqüência de um melhor controle neuromuscular, o qual é definido como o controle da ativação inconsciente de estabilizadores dinâmicos (músculos) ocorrendo em preparação ou resposta a uma carga ou movimento imposto a uma articulação com o objetivo de restaurar ou manter a estabilidade articular normal.
 
O programa de treinamento sensório-motor visando à prevenção de lesões articulares deve ser realizado de forma especifica para o esporte em questão, pois cada esporte possui características próprias e as lesões que acometem mais os atletas variam entre os esportes, homens e mulheres, faixas etárias e até mesmo entre cada posição no mesmo esporte.
O programa deve, ainda, ser realizado de forma progressiva (assim como qualquer outro tipo de treinamento) e deve focalizar alguns aspectos, como: flexibilidade, agilidade, força, treino de gesto esportivo e pliometria.
 
Exercícios pliométricos também podem ser realizados para a melhora do controle neuromuscular podendo desta forma prevenir a incidência de lesões. Estes exercícios, em que uma pré-carga excêntrica é seguida por uma vigorosa contração concêntrica também têm sido investigados para prevenção de lesões. Supõe-se que a pliometria melhora a estabilização articular e potencializa a contração muscular.
 
Exercícios de equilíbrio que promovam uma instabilidade, na qual o atleta realize movimentos dentro de sua base de sustentação, podendo ser executados em apoio bipodal ou unipodal, com ou sem auxílio da visão, sendo utilizados recursos externos, como colchonetes, dynadisc ou pranchas de equilíbrio.
 
Exercícios de agilidade para permitir que o atleta se adapte as mudanças rápidas de direção, aceleração e desaceleração. Estes tipos de movimentos costumam ser causadores de lesões articulares e musculares nos atletas. Para a execução do exercício podem ser utilizados cones, marcadores no solo, etc. À medida que o atleta começa a executar os exercícios de forma mais adequada, as habilidades necessárias para o esporte podem ser incluídas no exercício. 
Podem ser utilizados vários equipamentos no treino sensório-motor, sendo estes, colchões e colchonetes, dynadisc, cama elástica (mini trampolim), giroplano, prancha de equilíbrio, faixas elásticas, entre outros.
 
Exemplos:
 


 
 
 
Obs: Cabe ao responsável pelo treino sensório-motor usar sua criatividade e incorporar os movimentos específicos dentro do esporte de maneira associada aos exercícios de agilidade, pliometria e equilíbrio.
 
Considerações finais
Deveria ser obrigação das equipes oferecer treinos preventivos a seus atletas, porém, nossa realidade está bem distante disso, ficando o lutador responsável pela sua prevenção, muitas vezes, sem orientação adequada.
 
Por fim, a busca pela boa saúde, só faz com que os treinos fiquem mais seguros, elevando o nível técnico dos atletas, promovendo uma equipe mais forte e saudável, estando próximo de alcançar bons resultados.
 
Bons treinos e até a próxima!OSS.
 
 
 
* Luís Felipe Minechelli
Fisioterapeuta esportivo, especializando em Fisioterapia Esportiva pelo CETE/UNIFESP
Tel: (11) 9233-9531
Artigo concedido pelo site OLutador.com




Nenhum comentário:

Postar um comentário