*Uma grande polêmica sobre a utilização da terapia de reposição hormonal em atletas de
MMA ecoa pelos quatro cantos do mundo. Neste caso, o hormônio em questão é a testosterona, um importante esteroide andrógeno produzido pelo organismo. E a terapia de reposição de testosterona vem sendo requisitada e aplicada em vários lutadores de elite, que por alguma razão, apresentam esses níveis hormonais abaixo do normal na circulação sanguínea. O que é discutido então é se a TRT pode ser considerada uma arma vantajosa para esses lutadores no MMA, ou seja, um doping.
Primeiramente precisamos entender que a testosterona é produzida principalmente pelos testículos e sua função é múltipla, promovendo desde a indução do crescimento e desenvolvimento músculo-esquelético, como força e virilidade, até o impacto em componentes psicológicos, como a agressividade, por exemplo. Cada indivíduo produz quantidades variadas desse hormônio e sua concentração oscila de acordo com fatores genéticos, idade, peso, quantidade de gordura corporal, estresse mental e físico, e também com o momento do dia.
A diminuição da produção de testosterona se intensifica com o avanço da idade. Geralmente, os pedidos de TRT englobam atletas com mais de 36 anos. Do mesmo modo, pessoas com hipogonadismo ou que utilizaram esteroides anabolizantes em algum momento da vida, também sofrem de incapacidade na produção de testosterona ao longo da vida.
Esses indivíduos, com deficiência na produção do hormônio, sofrem com algumas manifestações clínicas importantes, como: baixa resistência, fadiga, depressão, alteração do humor, problemas com o sono e redução da libido. Características que não combinam com esportes de combate, certo?
Assim, na tentativa de evitar tais sintomas, a TRT é prescrita para esses atletas. No entanto, para outras modalidades esportivas essa abordagem é considerada doping, de acordo com a agência mundial antidoping (WADA). Lembremos do caso da nadadora Rebeca Gusmão, banida do esporte após ser pega no exame para a substância. Mesmo assim, nos Estados Unidos, se um atleta de MMA tem prescrição médica e autorização de uma comissão atlética para TRT, ele está liberado, desde que haja um controle dos níveis da testosterona dentro do normal no dia do exame.
A proporção de hormônio endógeno pelo exógeno deve ser em torno de 1/4 de acordo com as comissões atléticas americanas, sendo tolerável até 1/6. Historicamente, alguns atletas conseguiram estourar esses limites, como nos casos de Chael Sonnen, suspenso por seis meses após perder na primeira luta contra Anderson Silva, e Alistair Overeem, suspenso por nove meses antes da luta contra Junior Cigano. Overeem e Sonnen chegaram a incríveis 1/16, o que lhes couberam punições por doping.
Para se evitar que atletas usem a TRT em níveis extremos durante o período de treinamento, e reduzam a dosagem, próximo a luta, para não serem pegos no doping, seria necessária a realização de testes semanais para esse controle, evitando ganhos físicos desproporcionais que grandes quantidades de testosterona podem induzir no organismo durante o período em que os atletas são “turbinados”.
Um outro problema envolve a justificativa do lutador para utilização da TRT. Médicos de feras como Vitor Belfort, Dan Henderson, Chael Sonnen, Randy Couture, dentre outros, alegam que seus organismos não produzem quantidades fisiológicas de testosterona, solicitando a TRT para mantê-los, assim, no mais alto nível exigido atualmente no esporte. É aí que entra a importância de se identificar a origem do problema para se permitir tal prática no MMA.
Nunca é demais pedir um pouco de ética a atletas e médicos na prescrição de TRT, já que, por enquanto, é uma prática autorizada no esporte, para que não se torne generalizado no MMA. A ciência e o esporte devem sempre andar juntas, e, no final, que não vença, de fato, o mais “turbinado”.
*Luiz Prota é Mestre e Doutor em Ciências (Fisiologia) pela UFRJ e Johns Hopkins University. Narrador de MMA (Bellator) e lutas em geral pela TV Esporte Interativo
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